Os felinos são as maiores vítimas. Capturados quando filhotes – quando as mães são abatidas – e criados em cativeiro, esses animais dificilmente conseguem retornar de onde vieram com chances de sobrevivência. Mas outros animais também sofrem com as caçadas, que têm variadas intenções: as aves, para servirem de ornamento e companhia; mamíferos, para guarda e proteção; e ofídios, para experiências laboratoriais.
A Polícia Militar Ambiental do Mato Grosso do Sul (PMA-MS) é o principal parceiro do trabalho do Cras: a média diária de encaminhamentos da corporação é de quatro animais, apreendidos em fiscalizações ou recolhidos ao longo das estradas ou então resgatados de queimadas e enchentes. Chegam também ao centro muitos animais provenientes de entrega espontânea da população, que é estimulada por campanhas de esclarecimento. Quando chegam ao Cras, os animais são identificados por espécie, sexo, idade e procedência, numerados e inscritos em um banco de dados para posterior averiguação das possibilidades de destinação. Após esse fichamento, eles são imediatamente submetidos a um período de observação de 7 a 10 dias, para detecção de algum tipo de doença de modo a evitar a contaminação de outros exemplares. Uma parcela desses animais, depois desse período, é encaminhada, logo em seguida, de volta ao seu habitat. No entanto, quase a metade necessita de tratamento especial e fica na reabilitação específica de acordo com o dano sofrido durante a captura ilícita, ou ainda, pela imposição de hábitos impróprios à sua natureza. “Muitas aves, pegas na natureza quando filhotes, não adquirem musculatura para a prática do vôo e é necessário treiná-las. Outras não adquiriram a capacidade de procurar seu alimento na natureza e, dessa forma, é preciso ensiná-las caçar. Outras ainda, se habituaram à presença humana e se tornam incapazes de viver em liberdade”, lastimou o médico-veterinário do Cras, Newton Netto. Com mestrado em Psicologia Experimental e doutorado em Ecoetologia – Gestão de Populações Silvestres realizado na França, ele ressaltou que “muitas pessoas retêm espécimes silvestres para servirem de animais de estimação, imaginando que se a iniciativa não for bem sucedida, poderão soltá-los sem seqüelas em seu habitat natural”. Um período de cativeiro, dependendo das condições a que o animal é submetido, pode trazer danos irreversíveis.No Cras, atualmente um lobo comum, o chamado cachorro do mato, com uma coleira que lhe impede de alcançar o rabo, que quase foi decepado por constantes tentativas de auto-mutilação, anda em círculos, desesperadamente.O Cras, mantido pela Secretaria de Meio Ambiente do Mato Grosso do Sul, é um centro de referência para a recuperação de animais silvestres do país.
Cerca de 70% dos animais silvestres recepcionados pelo centro são aves. Entre elas, destacam-se papagaios, araras, periquitos, tucanos, canários e curiós. Na primavera, período de reprodução da maioria dessas espécies, é também a época de maior entrada de aves no centro. O papagaio verdadeiro é a maior vítima dos predadores, e por isso mesmo, o campeão das recepções. Anualmente chegam ao centro cerca de 320 exemplares. Outros 25 % dos animais abrigados são mamíferos e entre esses, os mais comuns, os macacos-pregos e sagüis. Os ofídios representam 5% dos animais do Cras. Jararacuçu, jararaca e a cascavel são especialmente visadas pela biopirataria. “Os grandes laboratórios de pesquisas farmacêuticas e instituições científicas são os grandes interessados não somente na nossa flora mas também no subproduto de nossos animais. As serpentes venenosas são muito visadas pela substância liofilizada que possuem, e que é empregada em pesquisas para novos medicamentos”, lembrou Newton. Ele explicou que a laquese, um dos componentes do veneno das cobras, é usado na fabricação de produtos homeopáticos e também na medicina tradicional indígena.
De acordo com o veterinário, em Botucatu (SP), atualmente, está sendo desenvolvida uma pesquisa com esse componente para a recuperação de enervação humana dilacerada ou seccionada. “As cobras são capturadas por traficantes, que as exportam para os grandes laboratórios, que pesquisam novos componentes terapêuticos, patenteiam as fórmulas e depois nos vendem os medicamentos com todo o valor agregado. Além do impacto que sofremos sobre as nossas espécies animais, ainda há o impacto econômico”, alertou.Os felinos silvestres, principalmente onças pardas e pintadas, que também fazem parte da população do Cras, são as espécies mais ameaçadas, devido, sobretudo, à fragmentação do seu habitat natural, o que torna escassas as suas condições de sobrevivência. Newton explicou que dificilmente um felino que encontra guarida no Cras tem condições de voltar à vida natural. As razões são diversas. “Primeiro a dificuldades de readaptação do próprio animal, e depois pela recusa dos proprietários de alguma Reserva Particular de Patrimônio Natural (RPPN) em abrigá-los”, explicou o veterinário. Somente no estado já existem 24 RPPNs, que são criadas com o incentivo da isenção de pagamento do Imposto Territorial Rural (ITR). As autorizações para a instituição dessas reservas são expedidas pela Secretaria do Meio Ambiente e ainda pelo Ibama, que preliminarmente, realizam levantamento técnico da área, quando são verificadas as condições de sobrevivência das espécimes solicitadas. “Há todo um cuidado de se evitar a introdução de animais estranhos ao ambiente e se há suspeitas de capturas ilegais realizadas no local, o que inviabiliza definitivamente a entrega da guarda”, informou o veterinário.
No dia 24/06/08 , foi sancionado o projeto que proíbe a utilização de animais nos circos
No dia 24/06/08 , foi sancionado o projeto que proíbe a utilização de animais nos circos do Rio Grande do Sul. Em Rio Grande, já havia sido criada a Lei Municipal de número 5.970 de agosto de 2005 proibindo a utilização de animais em espetáculos circenses. A Lei Estadual (nº 12.994/2008) reforça a luta de inúmeras organizações não-governamentais (ONGs) que protestam contra os maus-tratos em animais de qualquer espécie.
O projeto é de autoria do deputado Miki Breier (PSB). Segundo ele, as diversas manifestações de apoio de entidades de proteção animal colaboraram para a aprovação do projeto. O descumprimento da lei acarretará a imediata interdição do estabelecimento e a apreensão dos animais. Eles deverão ser albergados em instituições designadas por órgãos do Sistema Nacional do Meio Ambiente para serem avaliados por veterinários e enviados para um local adequado.
“A medida busca evitar casos de maus-tratos e abandono contra os animais”, destacou o parlamentar enfatizando que “com a lei em vigor os artistas circenses ganharão mais valor nas exibições”. Citou como exemplo o Circo de Soleil, pioneiro pela não-utilização de animais e com excelentes apresentações .
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